A ideia, como o próprio nome já diz, é
fazer com que as mulheres “pensem mais naquilo” e potencializem o desejo
sexual, uma necessidade que faz parte da realidade de muitas brasileiras. A
ideia do site veio da própria vivência com as amigas. “Elas diziam que os
namorados e maridos sentiam muito mais vontade de fazer sexo do que elas e que
não sentiam tesão. Mas a vontade não surge do nada. A maioria das mulheres que
eu conheço não consome nenhum tipo de pornografia ou material erótico”, pontua.
É o caso da
jornalista e relações públicas F.B. (*), 33, de São Paulo, casada há oito anos.
Apesar de achar que tem uma vida sexual saudável, com uma frequência semanal de
uma a duas relações sexuais, afirma que não pensa em sexo com frequência, mas
acredita que sentiria mais desejo se o fizesse. “Diferente dos homens, que são
estimulados o tempo todo, as mulheres quase não falam de sexualidade ou aquilo
que é atraente. Cresci sem falar disso com a família ou mesmo entre amigas”,
observa, acrescentando que a timidez e alguns tabus relacionados ao sexo são
alguns dos entraves. “Ninguém conta pra gente as dificuldades que vão aparecer
no casamento, inclusive nesse aspecto”, reforça.
Sensualidade x sexualidade:
contradições no País do Carnaval
Apesar de estarem em um País
conhecido como liberal e povoado por mulheres curvilíneas e sensuais, as
brasileiras ainda estão atrás de outras culturas quando o assunto é ir pra a
cama, na opinião de Y.D. “Acho que nos países latinos, onde a cultura religiosa
é muito forte, o sexo ainda é muito associado ao ‘pecado’, com culpa. E por
outro lado, o Brasil ainda é muito machista”.
Ela, que morou por dois anos na
França, provou na pele a diferença da aceitação dos homens às mulheres que
expressam mais o desejo sexual. “Existe uma hipocrisia sexual muito grande no
Brasil. A sensualidade está latente nos gestos, na dança, na maneira como as
mulheres se comportam, mas quando é para falar de sexo, ainda existe um monte
de tabu. Na França e em outros países da Europa as pessoas lidam com isso
com mais naturalidade”, analisa.
Já no Brasil, Y. D. notou que os
homens têm medo de mulheres com muita iniciativa. “Eles pensam que uma mulher
que encara o sexo com mais naturalidade sabe muita coisa e ficam com medo de
não corresponder às expectativas. Depois eu entendi que tinha que me segurar,
fazer de conta que era mais tímida, fazer um teatro para que sentissem que eram
o macho dominador”, conta.
Coordenadora do Projeto Sexualidade da
Universidade de São Paulo (USP), Carmita Abdo concorda que o aspecto cultural
influencia no psicológico de algumas mulheres, bloqueando os “pensamentos
poluídos”. No entanto, também ressalta a questão hormonal. “A mulher passa por
vários ciclos hormonais ao longo do mês e da vida. Tem a fase progesterônica,
que antecede a menstruação, a amamentação, o pós-parto e o climatério.
Tudo isso interfere para que elas estejam menos disponíveis para o sexo do que
os homens”, avalia.
Apesar de concordar que eles são mais
estimulados sexualmente do que as mulheres, ela acredita que o machismo vem
dando espaço para uma flexibilidade maior. “O homem brasileiro mudou bastante.
Muitos ainda dividem as que são para casar e as que são para fazer sexo, mas
alguns acabam se dando conta que essa escolha pode não ser tão favorável para
ele, pois pode estar traçando uma vida sexual para si não muito interessante”,
afirma.
Ir para a cama: teoria e na prática
Estimular o desejo por meio de
pensamentos, e estar consequentemente mais disposta para o sexo, não requer
prática nem habilidade – basta começar. Carmita destaca que a demanda sexual
está dentro de todos, a diferença é que alguns são estimulados, outros não.
Algumas, por outro lado, acabam
descarregando sua tensão sexual em outros campos da vida, como trabalho, filhos
e família. Por isso, ela avisa que é preciso haver equilíbrio. “Todo mundo tem
dentro de si um contingente de interesse sexual, é um encontro consigo mesmo.
Uma autorização que a pessoa se dá para viver sua sexualidade. O que a mulher
precisa é acreditar que ela também é um ser sexual”.
A profissional ressalta também a
importância de se procurar as equivalências com o parceiro sexual. “Não existe
parceiro ideal, existe parceiro possível, senão ficará eternamente procurando
aquele homem hollywoodiano, que vemos no cinema”, afirma, complementando que o
“sexo é um parâmetro de saúde”. “Quando alguém se realiza sexualmente, é um
atestado de que está bem física e emocionalmente”.
Para a jornalista Y.D., ter o hábito
de pensar em sexo é o segredo para ter uma vida sexual mais ativa e com
qualidade. Foi por isso que tomou a iniciativa de escrever um blog sobre o
tema. “Percebi que as mulheres tinham essa necessidade e existe uma lacuna de
publicações voltadas para elas. Não acho que os homens têm mais necessidade de
sexo, só acho que são mais estimulados”.
Ela, que se iniciou na vida sexual na
faixa dos 15 anos, disse que sua forma de ver o sexo vem da criação e da
curiosidade. “Acho que com relação às minhas amigas, sempre fui um pouco mais
livre. A mulher sempre fala do aspecto romântico da coisa, mas para os detalhes
ficam com vergonha. Com base nos comentários que recebe no blog, já percebeu
que o tema ainda choca um pouco. “Algumas mulheres têm dificuldade de ver este
tipo de material, um nu frontal, mas isso não impede de gostarem ou de querer
ler”.
Para ela, o momento é ótimo para as
mais tímidas começarem a colocar o assunto em pauta e nas literaturas de cabeceira.
“Hoje temos privacidade com a Internet, e isso abre uma porta. Ela não precisa
mais ir a uma banca, uma livraria ou locadora para ter acesso a materiais
pornográficos. Pensando em sexo você fica com mais vontade, porque já vem
trabalhando anteriormente ao momento. E isso reflete de uma forma geral no bem
estar, equilibra nossas funções como ser humano”, finaliza.
(*) Os nomes foram colocados em sigla,
pois as entrevistadas preferem preservar sua identidade.
Fonte: Voz da Bahia
Tópicos:
SEXO