A criança, nascida na zona rural do Mississippi, foi tratada com medicamentos antirretrovirais cerca de 30 horas após seu nascimento, algo que normalmente não é feito. Se o estudo mostrar que o método funciona em outros bebês, é praticamente certo que se modifique a forma como os recém-nascidos de mães infectadas são tratados em todo o mundo. A criança tem hoje 2 anos e meio e não toma o medicamento há cerca de um ano, sem sinais de infecção. Para a virologista Deborah Persaud, coordenadora da pesquisa, a rápida administração do tratamento provavelmente levou a criança à cura porque deteve a formação de reservatórios difíceis de serem tratados - células inativas responsáveis por reiniciar a infecção na maioria dos pacientes, semanas depois da interrupção do tratamento.
"Esta é uma prova do conceito de que o HIV pode ser potencialmente curável em recém-nascidos", disse Deborah Persaud, professora do Centro da Criança Johns Hopkins, e principal autora do relatório sobre o bebê. "É a prova inicial de que podemos curar o HIV, se pudermos replicar o caso". Se o relatório for confirmado, a criança seria o segundo caso bem sucedido de uma cura no mundo, dando um impulso à investigação destinada à cura, algo que poucos anos atrás pensava-se ser praticamente impossível . A primeira pessoa curada foi Timothy Brown, conhecido como o “paciente de Berlim”, um homem de meia idade com leucemia que recebeu um transplante de medula óssea de um doador geneticamente resistente à infecção do HIV. "Para pediatras, este é o nosso Timothy Brown",afirmou Deborah.
Os dois casos, no entanto, são diferentes. A infecção de Brown foi completamente erradicada através de um tratamento elaborado para a leucemia em 2007, que envolveu a destruição de seu sistema imunológico, e graças à célula-tronco transplantada de um doador com uma mutação genética rara resistente à infecção pelo HIV.
No caso do bebê do Mississipi, em vez de um tratamento dispendioso como o do paciente de Berlim, o procedimento envolveu a utilização de uma mistura de medicamentos amplamente disponíveis e já utilizadas para tratar o vírus. A primeira vez que Deborah Persaud e outros pesquisadores falaram sobre o assunto foi na segunda-feira, durante uma conferência sobre o retrovírus e infecções oportunistas, que aconteceu em Atlanta. Alguns especialistas, que ainda não sabem de todos os detalhes, disseram que precisam ser convencidos de que o bebê realmente foi infectado no nascimento. Se não, este seria um caso de prevenção, algo já feito para os bebês nascidos de mães infectadas.
"A única incerteza é a prova definitiva de que a criança estava de fato infectada", disse o médico Daniel R. Kuritzkes, chefe de doenças infecciosas do Hospital Brigham e do Women’s Hospital. Deborah Persaud e alguns outros cientistas afirmaram que estão certos que o bebê, cujo nome e sexo não foram divulgados, foi infectado. Foram cinco testes positivos no primeiro mês de vida - quatro para RNA viral e um para o DNA. E uma vez que o tratamento foi iniciado, os níveis de vírus no sangue do bebê diminuíram em relação ao padrão característico de pacientes infectados.
A ONU estima que 330 mil bebês tenham sido infectados em 2011, os dados mais recentes que existem, e que mais de três milhões de crianças no mundo estão vivendo com HIV. A mãe chegou no hospital rural no outono de 2010 já em trabalho de parto e teve a criança prematuramente. Ela não tinha visto um médico durante a gravidez e não sabia que tinha HIV. Quando um teste mostrou que ela havia sido infectada, o hospital transferiu o bebê para o Centro Médico da Universidade do Mississippi, onde ele chegou com cerca de 30 horas de vida.
A doutora Hannah B. Gay, professora associada de Pediatria, ordenou dois exames de sangue com uma hora de intervalo para testar a presença do RNA do HIV e do DNA, que encontraram um nível de vírus de até 20 mil mililitros. Normalmente um recém-nascido com uma mãe infectada receberia um ou dois remédios como medida profilática. Mas a médica disse, que baseada em sua própria experiência, usou um regime de três remédios destinados ao tratamento, não profilático, sem nem ao menos esperar pelos resultados dos testes que confirmaram a infecção.
Quando a mãe e a criança retornaram cinco meses depois, a doutora Hannah esperava ver altas cargas virais no bebê. Mas os resultados deram negativo. Suspeitando de um erro no laboratório, ela ordenou mais exames. - Para minha grande surpresa, todos eles vieram negativos - afirmou a doutora Hannah.
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