Equipe de Bolsonaro avalia que propostas da Economia são o golpe duro para a reeleição


A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) vê nas recentes notícias sobre planos da equipe do ministro Paulo Guedes o mais duro golpe à busca pela reeleição do chefe do Executivo.

Integrantes da campanha e do governo buscam contra-atacar as críticas que surgiram desde a semana passada, quando a Folha de S.Paulo divulgou a ideia do Ministério da Economia de desindexar o salário mínimo e a aposentadoria.
Além dessa proposta, outro tema que repercute mal -especialmente, com a classe média- foi noticiado pelo jornal O Estado de S. Paulo e trata de estudos da área técnica da Economia para retirar do Imposto de Renda dedução de gastos com saúde e educação.
De acordo com integrantes do núcleo duro da campanha, com essas propostas, Guedes tem se comportado "como cabo eleitoral do PT".

Há ainda o agravante do tempo: os planos de Guedes se tornaram públicos nos últimos dez dias do segundo turno, que ocorre no próximo domingo (30), deixando pouco tempo para tentar rebatê-los.

O PT adotou a estratégia de explorar ao máximo os planos do ministro que foram divulgados na última semana. A avaliação na campanha petista é que a ideia de mexer com o salário e Imposto de Renda tem potencial de afugentar eleitores.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já havia prometido dar aumento ao salário mínimo acima da inflação e isentar o Imposto de Renda de quem ganha até R$ 5.000. Essas propostas passaram a ser exploradas exaustivamente na propaganda na TV e em materiais de campanha para fazer contrapontos aos projetos de Guedes.

Assessor especial do presidente e candidato derrotado a deputado nas eleições, Tenente Mosart publicou um vídeo de Bolsonaro, na manhã desta quarta (26), em que ele sugere que Lula quer taxar o Pix.

"Lula quer recriar CPMF? Taxar o Pix, criação nossa que atendeu a mais de 100 milhões de brasileiros, em especial os mais pobres? Lula, recriar CPMF, não. Taxar o Pix, muito menos", diz Bolsonaro.

Guedes também já defendeu a volta do imposto sobre transações financeiras no passado, em mais de um momento, mas a iniciativa não prosperou no Planalto.


O ataque do presidente a Lula usando o Pix e a CPMF é uma das tentativas de responder à exploração que a campanha petista tem feito aos estudos da equipe econômica.

A avaliação de aliados de Bolsonaro é que as pautas econômicas prejudicam muito mais do que qualquer outro ataque na campanha até aqui.

Mesmo o episódio envolvendo o agora ex-aliado Roberto Jefferson, detido e acusado de tentativa de homicídio após resistir à prisão e atirar granada contra agentes da Polícia Federal (PF).

O caso, segundo aliados de Bolsonaro, pode arranhar e respingar na campanha, mas a ação do presidente de condenar o ato de Jefferson teria sido efusiva e rápida o suficiente para trazer distanciamento ao preso.

O episódio tornou-se um ponto de desgaste contra a campanha do presidente, sendo explorado por seus rivais. Opositores têm associado o caso a uma onda de violência política que, dizem, é estimulada pelo presidente.

Desde domingo, Bolsonaro e aliados têm buscado tentar se distanciar do ex-deputado defensor de primeira hora do bolsonarismo. O chefe do Executivo disse que eles não têm uma foto juntos, o que não é verdade, e chamou-o de bandido.

Mas o que tem mais tem tomado tempo de reuniões no QG da campanha do presidente são as pautas econômicas, indigestas ao público a apenas quatro dias do segundo turno.

Levantamentos internos da campanha mostram tendência de empate técnico. No cenário mais otimista, Bolsonaro tem 53% de votos válidos. No menos otimista, está com 49% e Lula à frente.


Na última segunda-feira, a reportagem da Folha de S.Paulo flagrou o momento em que Bolsonaro assistiu ao horário eleitoral do adversário petista durante almoço na Vila Planalto, no entorno do Distrito Federal.

O vídeo fala que o Auxílio Brasil vai acabar em dezembro, que há cortes no Farmácia Popular, e traz imagens do deputado Janones (Avante-MG) falando que o salário mínimo e as aposentadorias terão redução do valor no próximo ano -em referência à desindexação.

Guedes estava sentado em frente ao presidente, acompanhado também dos ministros Bruno Bianco (AGU), Wagner Rosário (CGU) e Célio Faria Jr (Secretaria de Governo). Após ver a inserção petista, Bolsonaro comenta com o titular da Economia: "Você fala com imprensa, mas eles não publicam nada".

A cena captou o que é uma queixa frequente do chefe do Executivo. No episódio do salário mínimo, a estratégia inicial foi a de negar, apesar de as propostas terem sido discutidas na pasta e de haver documentos de comprovação.

Outra será a de culpar supostos infiltrados petistas na pasta, como o próprio ministro disse haver na terça-feira (25).

"Alguém, possivelmente um petista de dentro -e entre 160 mil pessoas, deve ter muito petista dentro do ministério-, pega um trabalho que não tem o nosso aval e nem o nosso apoio. Jamais decidimos qualquer coisa nessa direção. Fazem um trabalhinho interno, eles mesmos assinam e passam para os jornalistas", disse Guedes, em evento com a OCB (Organização das Cooperativas do Brasil).

A narrativa de que a culpa é de infiltrados repercute também entre integrantes da campanha. Apesar das queixas de que Guedes seria cabo eleitoral petista, há uma avaliação de que a culpa é da divulgação dos estudos - não o fato de eles existirem.

No mesmo dia, o Ministério da Economia divulgou uma nota para negar as propostas do Imposto de Renda e do salário mínimo, e disse não reconhecer "fluxos clandestinos de informação".

"A instituição lamenta que haja alguns veículos de informação tentando trazer confusão e intranquilidade à sociedade brasileira de maneira indevida. E adverte que os canais institucionais são os únicos para obtenção da informação oficial", afirma o texto.

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