Morro do Chapéu: Jornal Folha de São Paulo destaca a Vida e História de Dona Mariinha




Maria Gomes Cerqueira era a enciclopédia de Morro do Chapéu, município no noroeste da Bahia.

Frequentadora da igreja católica local, lembrava com precisão de nomes, datas e acontecimentos, compartilhados ao longo de 94 anos com aqueles que recorriam a ela para refrescar a própria memória.

Filha de Francisco Januário Gomes e Elisa Barbosa Gomes, Mariinha —como era mais conhecida— viveu até os 12 anos no povoado de Santa Úrsula, mudando-se depois para a região montanhosa de Quebra Cangalha. Lá, morou “de 14 de janeiro de 1941 até abril de 1957”, lembrava com exatidão.

“Nunca fui pra escola, mas eu já nasci sabida” afirmava. Essa e outras declarações da própria Mariinha estão em um documentário produzido pelo neto Danilo Ribeiro em comemoração aos 90 anos da matriarca, em 2018. Embora não tenha ido à escola, aprendeu a ler e escrever, e tinha nas palavras cruzadas um dos seus passatempos favoritos.



Declamava sem hesitação o nome dos 6 filhos, 14 netos e 8 bisnetos, além dos nomes e datas de aniversário dos filhos das amigas. “Tinha uma amiga dela que, com o passar dos anos, não lembrava mais da data de aniversário dos 11 filhos, e sempre perguntava à minha mãe”, comenta Cristóvão, um dos filhos de Mariinha.

Graças a essa habilidade, ela auxiliou até mesmo o Correio do Sertão, centenário jornal do município. O periódico recorria com certa frequência a Mariinha para recuperar fatos e personagens da cidade.

A matriarca se casou aos 30 anos com João Nunes de Cerqueira, dez anos mais velho do que ela. Considerava bom ter demorado para se casar, porque se tivesse sido mais cedo, achava que não seria com ele. João Cerqueira morreu em 2006, sentado na poltrona de casa, ao lado de Mariinha.

Ela lembrava de canções com facilidade e era afinada, de tal modo que por um tempo sonhou em virar cantora. A habilidade musical influenciou os filhos Eugênio e Cristóvão Cerqueira, que são músicos, e o neto Danilo, pesquisador do cancioneiro popular: “Eu acho que eles puxaram a mim”, orgulhava-se Mariinha.

Religiosa, encarava com naturalidade as questões de vida e morte. Dizia estar preparada para o momento em que Deus a quisesse levar. Não se tornou cantora profissional, mas tinha o hábito de cantar música sacra e sertaneja, prática mantida até os últimos dias de vida. Mesmo com a saúde debilitada, “ela cantava sem desafinar”, afirma o neto, Danilo.

Mariinha morreu aos 12 de março, em decorrência de uma infecção generalizada. Levou consigo parte da história de Morro do Chapéu, mas ao longo da vida escreveu tantas outras que serão passadas adiante por parentes e admiradores. (Morro Notícias)

Folha de São Paulo

Veja o video produzido em 2018 pelo neto Danilo Ribeiro:


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