Resgates foram feitos pelo Ministério do Trabalho e Emprego em duas cidades da Bahia. Um dos funcionários perdeu dois dedos no serviço, porque não tinha equipamentos de proteção.
Em pleno 2025, cenas chocantes de exploração e descaso com a vida humana ainda são realidade no Brasil. Entre os dias 8 e 18 de junho, 57 trabalhadores foram resgatados em situação análoga à escravidão em duas fazendas no interior da Bahia. A ação foi conduzida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e revelou condições de trabalho degradantes, falta de segurança e violações gravíssimas de direitos.
Água contaminada e zero proteção
Na cidade de Gentio do Ouro, 42 pessoas trabalhavam em uma fazenda de carnaúba sem qualquer equipamento de proteção. A água para consumo era armazenada em galões reaproveitados de produtos químicos, como Zarpan e peróxido de hidrogênio — substâncias perigosas à saúde humana.
Sem acesso a banheiros ou local adequado para refeições, os trabalhadores se viravam como podiam. Dormiam em redes amarradas entre colunas, sobre sacarias, caixas de bebidas e até botijões de gás. O banho era tomado em um cano improvisado e as necessidades fisiológicas eram feitas no mato.
Acidentes e salários indignos
Na fazenda de sisal em Várzea Nova, 15 trabalhadores viviam em situação igualmente crítica. Recebiam apenas R$ 250 por semana, valor inferior ao salário mínimo. Trabalhando descalços, de chinelo ou com sacos plásticos nos pés, operavam máquinas cortantes — e um deles já havia perdido dois dedos em um acidente de trabalho.
Nos alojamentos, o cenário era de abandono: sem colchões ou roupas de cama, os trabalhadores dormiam sobre pedaços de espuma, papelão e sacos plásticos. A água potável era armazenada sem vedação, sujeita à contaminação, e as refeições se limitavam a arroz, feijão e cuscuz. Quando havia carne, era pendurada sobre o fogão, exposta a insetos.
Medidas e responsabilizações
O MTE informou que as verbas rescisórias somaram aproximadamente R$ 380 mil, pagos de forma parcial. Os responsáveis foram notificados a regularizar os vínculos empregatícios, além de firmarem Termos de Ajuste de Conduta (TAC) junto ao Ministério Público do Trabalho e à Defensoria Pública da União, prevendo o pagamento completo das rescisões e indenizações por danos morais.
Os trabalhadores resgatados terão direito a três parcelas do seguro-desemprego especial e foram encaminhados aos serviços de assistência social para receber acompanhamento.
Fonte: G1 Bahia